Retórica

A retórica foi a primeira das disciplinas na história ocidental que de alguma forma se relacionaram ao estudo da literatura. Sua origem está relacionada aos grandes júris populares que no século V a.C. se realizaram primeiramente na Sicília, e após, na península Ática. Esse desenvolvimento judiciário levou ao surgimento dos sofistas, professores que ensinavam técnicas de oratória para persuadir as opiniões e obter vitória nas disputas públicas.

Com raízes na estima da poesia homérica, estudiosos como Empédocles, Górgias e Isócrates exploraram, através da retórica, o potencial de sedução e fascínio da palavra. A princípio rejeitada pela filosofia, que não a entendia como uma via de acesso ao saber genuíno, a retórica passou a ser aplicada também à escrita. Foi habilitada por Aristóteles, que a acolheu sistematizando suas técnicas relativas à argumentação lógica, ao apelo emocional e a elegância.

Este último aspecto, relativo à beleza, parece ser o conceito que mais influenciou a reflexão acerca do literário. Ele pode ser apontado como o mais antigo antecedente da expressão que por muito tempo designou os textos literários: “belas-letras”.

Tornando-se latina com Cícero e Quintiliano, a retórica foi uma das disciplinas do trivium, na idade média. Perdendo, a partir do século V d.C., o seu prestígio, sabemos que sua posição de importância não ultrapassa o século XVIII.

Já sua data de reabilitação é bem recente, quando da publicação, em 1958, do Tratado da Argumentação, de Perelman e Tyteca.

Os estudantes têm hoje seu primeiro contato com a retórica através da pedagogia da redação. O que se dá também em gramática, com o estudo dos “tropos e figuras de estilo”, um remanescente da elocutio, uma das antigas divisões da disciplina original.

É possível perceber a retórica como objeto ou motivação teórica em diversas correntes modernas da teoria da literatura. Nesse âmbito podemos citar a estilística, o estruturalismo e a semiologia dos anos 1960, o formalismo eslavo, a psicanálise e o new criticism anglo-norte-americano. Sentimos sua presença também no pensamento pós-estruturalista de Derrida, Foucault, Deleuze e Lyotard, na filosofia analítica e, na já citada, teoria da argumentação.