álvares de azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi poeta, contista e ensaísta. Escreveu Lira dos Vinte Anos, Poesias Diversas, Poema do Frade, O Conde Lopo, Pedro Ivo, Macário, Noite na Taverna e o Livro de Fra Gondicário.
Com uma vida curta e uma produção imensa, o poeta ultrarromântico celebrou o amor e a morte, dicotomia já evocada no post sobre Alphonsus de Guimaraens.
Aos 4 anos de idade o poeta viu o funeral de um irmão ainda bebê. Explicaram-lhe que a criança morta, enfeitada com todo o cuidado, era um anjinho que estava indo para o céu brincar com outros anjos. Azevedo teve uma reação inesperada e exigiu que também o enfeitassem daquela maneira para que ele também pudesse subir ao céu com o irmão defunto e, depois disso, teve uma grave crise de febre.
A morte passou a ser para ele uma obsessão e sua notável obra literária, escrita entre os 16 e os 20 anos, evoca um insuportável tédio de viver. Como ditava o romantismo, sua vida (mesmo que imaginária) haveria de se confundir com sua obra. Após uma queda de cavalo aos 21 anos de idade, teve como epitáfio um de seus próprios poemas, o “Se Eu Morresse Amanhã”, declamado em seu funeral por Joaquim Manuel de Macedo, um de seus parentes.
Diante do poder da morte o amor não se realiza nem na vida, nem na literatura. Os poemas de Álvares são povoados de “virgens vaporosas” quase sempre adormecidas. Elas são produto da imaginação, dos sonhos e do delírio do poeta. Sem o misticismo de um Alphonsus, ou na falta de uma resolução consciente como a de São João da Cruz, o poeta se perde em seus devaneios e sofre de maneira que só a morte lhe trará consolo.
Não sabe, como Fernando Pessoa em “Eros e Psique”, que a princesa que dorme é ele mesmo. Ignora que “desejar a donzela é, no fundo, desejar sua incolumidade”, como disse Secchin em Percursos da Poesia Brasileira.
A candura e a dicção abrasileirada de seus versos, bem como a repercussão que alcançou em seu tempo após a morte pressentida o levaram diretamente ao cânone da nossa poesia.