Como dar nome a um personagem

Em Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o personagem principal, bacharelado e de volta ao Brasil, no momento em que é instado pelo pai a se casar, conhece uma moça bonita de dezesseis anos, filha de uma amiga da família. Dona de “olhos e cabelos negros, compostura senhoril, graça natural e uma boca fresca” essa moça atrai Brás Cubas e ele permanece por uma semana na Tijuca enamorado até conseguir um beijo dela. No oitavo dia do namoro, o moço retira-se “com terror” para a corte, abandonando esse possível casamento para sempre.

Alegoricamente, no momento em que conhece a garota, Brás Cubas se depara com a aparição de uma borboleta preta, que espanta D. Eusébia (a mãe da moça), para a diversão do personagem. No dia seguinte, outra borboleta negra, maior que a última, entra em seu quarto. Ele ri-se e recorda imediatamente da jovem no incidente anterior, “do susto que tivera, e da dignidade que, apesar dele, soube conservar”. Em seguida, Brás Cubas, com uma toalha, mata a borboleta. Apiedando-se dela em sua agonia, coloca-a, arrependido, no peitoril da janela para que, talvez, ela ainda saia a voar… mas “era tarde” e Brás Cubas se consola do assassinato do inseto com a seguinte reflexão: “ – também porque diabo não era ela azul?”.

Já no final do romance, Brás Cubas, cinquentenário, servindo a uma ordem religiosa com obras de caridade para o louvor próprio, encontra, num cortiço, enquanto distribuía esmolas, uma senhora que, apesar de triste, fecha-se altivamente em seu “cubículo” após cumprimentá-lo. Essa senhora foi a moça da Tijuca. Nenhum dos dois havia se casado.


A moça, à maneira da borboleta, tinha um defeito em sua gênese que impediu a expansão do afeto e o possível amor desse homem tão sensível às aparências sociais: era “coxa de nascença”, ou seja, tinha uma deficiência física. Enquanto ela permanece digna por toda a vida, apesar de não ter nascido “azul”, Brás Cubas, ávido pela aceitação e louvor da sociedade, como um legítimo representante da elite brasileira da época, decide que jamais poderia casar-se com ela, que, a despeito de ter todas as virtudes, sofreria a vida toda uma morte social, uma nova forma de eugênia. Opa! me enganei, de eugenia…