Pontos de Fuga


Em Pontos de Fuga, segundo volume da trilogia O Lugar Mais Sombrio, Milton Hatoum aprofunda a diferenciação dos personagens segundo suas trajetórias.
Aqueles jovens d’A Noite da Espera já não são mais os mesmos, tendo experienciado o amor, a traição, o rompimento familiar, a morte, a prisão pelo regime e o exílio de Brasília e do Brasil. Separados do convívio idílico no campus da UnB, suas vozes e escritas distintas convivem na memória e no imaginário do protagonista Martim, que vai reunindo o fio de suas narrativas no novelo da sua vida.
Com novos amigos de uma república que, aos poucos, também vai se desfazendo nessa espiral de perdas que se intensifica, Martim prossegue sua vida em São Paulo, onde é preso novamente pela ditadura.
O curso universitário e os amigos arquitetos ajudam a perscrutar o significado de Brasília, um “sonho interrompido”, “a última utopia realizada, antes do toque militar de recolher”.
O panorama de Paris com seus refugiados também é retratado com novas tintas, mas o fantasma da mãe e dos amigos distantes não abandonam Martim. Enquanto a notícia do possível aparecimento da mãe o abala e o chama de volta ao Brasil, uma profecia sombria e corajosa numa carta do Nortista estremece o leitor:
a cada vinte ou trinta anos Moloch troca de máscara, mas mantém a cabeça de ganância e crueldade, e o mesmo ventre, que devora e imola crianças. Serão novos tempos de errância, pesadelos em plena vigília, desonra do corpo e da mente. Ainda assim, há esperança, amargura e euforia, tudo misturado. O eterno ditirambo do Brasil. Violência, sofrimento, risadas. Promessas, imposturas…