Submissão

Segundo leitura do Distopília neste ano, Submissão, de Michel Houellebecq, é uma obra polêmica. Deixando de lado a possível analogia biográfica com o autor e mesmo a relação entre a França e o Islã, vou tratar da obra como uma distopia.

Como Rodrigo Sorato destacou no nosso encontro, a narrativa parece querer responder aquela pergunta que sempre surge na cabeça do leitor quando lê algo do gênero: — Como essa situação chegou a este ponto?

Em Submissão, de maneira entediante (pode ser que para quem acompanhe a política na França isso seja diferente), o relato explica as escolhas que tornaram o cenário distópico inevitável.

O personagem principal é o aspecto fundamental do relato, e todas as características do livro parecem fazer sentido a partir dele. Na sua vida nada acontece, então a narrativa é exposta como uma trama meio capenga, (Luiz Antônio Gusmão apontou em nossa reunião personagens abandonados pelo narrador). A estética blasé e digressiva da obra são extensões de François, um intelectual de meia-idade.

Machista que se deixa encaixar por meio de uma falsa conversão a uma teocracia machista, François é um completo materialista incapaz de qualquer sensibilidade ou espiritualidade.

Segundo ele, o amor para um homem “nada mais é que o reconhecimento pelo prazer dado” por uma mulher.

Apático em meio a convulsão social que o cerca, ali está na narrativa disposto a frustrar qualquer expectativa, interessado apenas em saciar sua fome de iguarias e sexo.

Egoísta rematado, o protagonista é uma distopia encarnada, tão próxima e tão banal que nos causa um outro tipo de horror.

Esse narrador-personagem detestável é um desafio para o leitor, e a compra do livro, é preciso alertar, pode até deixar alguns indignados. Submissão pode impedir qualquer nova visita à obra de Houllebecq.